às vezes eu quero demais, mas eu nunca sei se eu mereço.
eu sempre quis coisas que pareciam grandes demais para mim.
quis amor, mas não qualquer amor – um que me segurasse firme, um que não me soltasse quando eu tentasse fugir. quis paz, mas uma paz que não fosse silenciosa demais, que não soasse como abandono. quis felicidade, mas uma que não precisasse ser negociada, que não parecesse uma dívida que eu nunca conseguiria pagar.
eu sempre quis demais.
e, ao mesmo tempo, nunca soube se podia.
porque toda vez que algo bonito chegou perto demais, eu me encolhi. tive medo de tocar, medo de segurar forte e acabar estragando. toda vez que alguém me olhou como se eu fosse suficiente, eu desviei o olhar, porque alguma coisa em mim dizia que não era verdade. porque alguma coisa em mim sempre sussurrou que amor demais sempre acaba, que felicidade demais sempre tem um preço, que querer demais é sempre perigoso.
e se eu me acostumar com o que é bom e depois perder?
e se eu acreditar que sou digna e, no final, não for?
às vezes, sinto que sou feita de um vazio que eu mesma cavei. como se eu tivesse passado anos abrindo espaço dentro de mim para tudo o que nunca chegou. como se eu tivesse me tornado alguém que espera, mas que não sabe o que fazer quando, por algum milagre, algo vem.
e se eu for um peso?
e se as pessoas ficarem porque têm pena, e não porque querem? e se eu estiver aqui, querendo o mundo, mas não sendo grande o suficiente para segurá-lo?
eu olho para dentro e vejo um mar revolto. eu sou isso: um oceano que transborda sem aviso, uma tempestade que não sabe a hora de passar.
e ninguém quer morar em tempestades.
eu tenho medo de ser a única pessoa que se sente assim.
de ser a única que não sabe segurar o que quer. de ser a única que, quando recebe amor, não sabe o que fazer com ele. de ser a única que se sente um erro ambulante, um desencontro constante, um tropeço dentro do próprio corpo.
às vezes, eu só queria saber o que é se sentir completa.
queria parar de me perguntar se sou o problema. se sou eu que espanto as coisas boas. se sou eu que sempre espero pelo abandono, mesmo quando ninguém mencionou que ia embora.
eu queria não carregar essa sensação de que tudo que chega tem data de validade.
mas talvez esse seja o preço de querer demais.
Eu senti cada palavra desse texto. É como se você estivesse descrevendo um pedaço de mim, ou de tantas pessoas que carregam o medo de se permitir, de aceitar o que é bom por medo de perder. A busca incessante por algo que parece grande demais, mas, ao mesmo tempo, a sensação de não ser capaz de carregar. É um conflito constante, entre o querer e o medo de merecer, o amor e o medo de não ser digno dele.
Lindo texto. Você não é a única a se sentir assim!