o problema não é que eu não sei nadar, é que eu sempre me afogo em mim mesma.
eu nunca aprendi a nadar. sempre tive medo de me soltar, de deixar o corpo ir, de confiar que a água me sustentaria.
nunca conheci o mar. meu mundo sempre foi terra firme, onde pelo menos eu tinha a ilusão de que estava segura. mas, de alguma forma, passo a vida inteira me afogando. mesmo sem nunca ter pisado em uma praia, mesmo sem nunca ter mergulhado fundo em nada.
o problema nunca foi a água. nunca foi a falta de técnica, a respiração errada, a falta de impulso. o problema é que, dentro de mim, existe um oceano que não para de crescer. ele se forma nos cantos das minhas noites mal dormidas, nos silêncios depois de conversas que não foram como eu queria, nas expectativas que, secretamente, eu sei que nunca vão se cumprir.
eu me afogo nos pensamentos que não param. na autocobrança que me corrói. no medo de decepcionar as pessoas que amo. eu me afogo nas palavras que não consigo dizer, nos sentimentos que nunca aprendi a demonstrar, nas vontades que parecem grandes demais para caber dentro de mim.
e por mais que eu tente colocar os pés no chão, por mais que eu tente me agarrar a algo sólido, tudo escorrega. a água sempre sobe mais rápido do que eu consigo correr.
talvez seja porque eu nunca soube nadar. nunca aprendi a lutar contra a correnteza, a segurar o fôlego na hora certa. nunca aprendi a confiar que, se eu me soltar, talvez eu flutue. então, eu luto. o tempo todo. contra mim mesma, contra o que eu sinto, contra o que eu sou. me debato, me esforço, me esgoto. até que não sobre nada além do cansaço.
e ninguém percebe.
por fora, estou aqui. vivo minha vida, cumpro minhas obrigações, sorrio quando esperam que eu sorria. Mas por dentro, há ondas gigantes quebrando contra os meus ossos. um mar inteiro revolto, tentando me engolir. E ninguém vê.
talvez seja porque, no fundo, as pessoas esperam que a gente saiba nadar. esperam que a gente encontre um jeito de se salvar, que aprenda a boiar, que encontre a margem sozinha.
mas eu nunca aprendi. nunca estive nem perto de aprender.
e às vezes, só às vezes, eu queria que alguém notasse. que alguém entendesse que não é porque estou de pé que estou segura. que não é porque ainda estou respirando que não estou me afogando. que eu nunca soube nadar, e nunca conheci o mar, mas que mesmo assim, eu passo a vida inteira lutando para não afundar.
amei o texto, me tocou muito!
Como essa pessoa sabe tanto sobre mim ? Tem câmeras dentro do meu coração e ela vê e escuta tudo e transforma em texto .